
Qual foi a pior dor que você já sentiu? Se pudéssemos escolher, provavelmente, optaríamos pela dor física a outra dor latejante, que pulsa e ninguém vê.
Muitos de nós vivemos neste emaranhado de uma violência não tão discutida quanto a violência física, entretanto ela também fere, causa sofrimento, dor, hematoma e segregação.
Mas que mal é esse afinal?
É a violência invisível que existe no nosso modo de pensar e usar o poder que temos nos tratos com os outros.
Nossa comunicação pode estar permeada por violência e nós nem percebemos. Sim, porque a violência nos foi ensinada por uma maneira de pensar e uma linguagem, que muitas vezes carregam julgamentos moralizadores, depreciações, rótulos, comparações e geram vergonha e culpa.
Isso não quer dizer que somos cruéis, desumanos, impiedosos e monstruosos, embora possamos ser tudo isso às vezes. A violência invisível é uma expressão de nossas próprias necessidades e valores, exteriorizada da maneira trágica como aprendemos. Por exemplo, quem nunca ouviu ou até mesmo disse:
“Você nunca tem tempo para mim”;
“Nunca posso fazer o que eu quero”;
“Esse relatório era para ontem, onde você está com a cabeça? ”;
“Minha mãe reclama de tudo”;
“De novo esse assunto”?
O fato é que muitas vezes condessamos toda a carga de necessidades não atendidas em frases do dia-a-dia. E se aprendêssemos a expressá-las de uma maneira que não causasse culpa, mágoa e sofrimento nas pessoas? E se por meio do autoconhecimento entendêssemos tão profundamente do que precisamos e do que o outro precisa como se neste momento estivéssemos emocionalmente nus?
Talvez sem essa capa que nos cobre possamos de fato entender um ao outro de forma empática e por meio da compaixão consigamos aquilo que queremos sem violência.
Podemos desaprender a violência, porque ela não tem nos ajudado a ser felizes, na verdade ela nos atrapalha. Shakespeare descreve essa realidade através de Otelo quando diz: Percebo a fúria em suas palavras, mas não entendo as palavras. ” Apesar desses percalços não somos casos perdidos, podemos ser ouvidos, ouvir e ser compreendidos e ter uma vida essencialmente realizada.